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Mostrando postagens de maio, 2009

Pelo Direito de Viver (2007)

O aborto é um tema que sugere sempre discussões acaloradas. Embora sua prática esteja proibida por lei em nosso país (exceto em casos de estupro e onde a vida da mãe esteja em risco) sempre surgem idéias e grupos de pessoas que desejam legalizá-lo. Um argumento muito utilizado neste ano e que saiu até em jornais e revistas é o do aborto ser uma questão de saúde pública. Segundo os propagadores deste argumento, ele se justifica porque a quantidade de mulheres que adentram um hospital em decorrência de complicações do aborto é grande, o que gera um custo desnecessário para os cofres do governo. Portanto, se o aborto fosse legalizado, a saúde não precisaria gastar recursos salvando a vida de mulheres que se arriscam em clínicas clandestinas. Pode fazer sentido para algumas pessoas. Esta justificativa, entretanto, é muito perigosa, porque analisa apenas um lado da questão do aborto: suas conseqüências. Mas e as causas? Por que ninguém discute a decisão da mulher de abortar? Ou os motivos q

Grito de Agonia (2004) parte final

Ela parou. Olhou para o público que a amava e que a seguia como um exemplo. Enxugou as lágrimas. Levantou. Com uma das mãos pegou o microfone e disse: “Queridos fãs, hoje me despeço de vocês. Não mais cantarei. Não mais seguirei essa vida. Quero um pouco de paz”. Ao dizer isso, retirou-se sem dar satisfações para ninguém. Os músicos boquiabertos ficaram sem reação. O público nada compreendeu. Mas no fundo sabiam que haviam perdido o seu ícone. Mais tarde, nos dias que se seguiram, os empresários, furiosos, exigiram que ela voltasse, que honrasse o contrato assinado, sob pena de pesadas multas. Mas Jenifer não voltou atrás. Aceitou as penalidades impostas pelos dirigentes da banda. Perdeu quase todos os bens materiais que possuía. O seu nome foi ridicularizado na mídia. Mas ela não se importava mais. Algumas semanas depois, usando um vestido rosa bem simples, com os cabelos presos e óculos escuros, e com apenas uma mala de mão, foi até um terminal rodoviário e comprou uma passagem. Iria

Grito de Agonia (2004) parte 2

Isso foi antes das drogas, antes dos líquidos entorpecentes que a deixavam eufórica, mas que paralisavam a sua razão. Desde então, não teve mais notícia de Pedro, de seus pais, de seus amigos. Momentos antes do show, Jenifer estava angustiada. Queria sair dali, ficar deitada em uma cama e esquecer da sua vida. Se pudesse queria dormir para não mais acordar, para calar a voz da consciência que a martelava sem cessar. Queria ficar sozinha, longe das amizades que sempre a recebiam com um sorriso no rosto e uma garrafa de whisky nas mãos. Alguém para conversar, em quem ela pudesse confiar, mas não havia ninguém. Logo o show teve início. A jovem e bela vocalista esboçou um sorriso forçado e pôs-se à frente no palco. A multidão silenciosa até aquele momento, começou a gritar e a fazer algazarra quando a viram começar o espetáculo. Na terceira música, mais ou menos, a vocalista subitamente parou. Não conseguia mais. Embora sua voz estivesse ali, embora soubesse as letras de cor, não podia mai

Grito de Agonia (2004) parte 1

Pessoal, hoje eu coloco o conto Grito de Agonia, meu primeiro - e até agora, único - conto publicado num livro. Ele está no livro II Concurso SEB Contos, Crônicas e Poesia, da Sociedade Escritores de Blumenau. Espero que gostem. O silêncio era geral. Cerca de cinqüenta mil pessoas ficaram a madrugada toda em pé, à espera do espetáculo principal. Outras bandas haviam passado, com suas músicas repletas de acordes delirantes. O público estava eufórico. Diante da expectativa do último conjunto a se apresentar, ninguém conseguia dizer nada. A vocalista era jovem e bela, ícone de sua geração. Suas roupas, seus trejeitos, sua postura no palco e sua bela voz como que anestesiava as exaltações das pessoas que vinham vê-la. Todos a seguiam como um exemplo. Imitavam sua roupa, seu jeito rebelde, suas atitudes. No entanto, Jenifer não estava bem. Doente há algum tempo, havia se envolvido com parceiros diversos na área do sexo em desvario. Esses encontros onde o amor está longe de comparecer eram r

Papo de Elevador (2009) Parte 9

VERÔNICA!!! - Alô? - Oi Amor. - Oi! Oi João! Estava agora mesmo pensando em você. Tudo bem? - Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa! - João? Pelamordedeus João! O que está acontecendo? Você foi despedido? Bateu o carro? Está estressado? - Não, não e sim. - Sim? Para o estressado? - É... - Meu querido, diz o que está acontecendo, diz! Vamos nos encontrar em algum lugar. Você consegue pedir dispensa no serviço? - Amor, estou cansado e estressado. Minha vida não tem sentido. Faço tudo e falo tudo automaticamente, sem pensar. - De onde você tirou essas idéias? - Eu percebi isso. Hoje. - É a primeira vez que ouço essa sua queixa. - Pois é. Estava dormindo. E agora acordei. - Dormindo no serviço? Ai João, e se o seu chefe te descobre? - Não Verônica, não. Presta atenção. Dormindo no sentido figurado. - Estou prestando atenção. Fica calmo. - Eu sempre falo as mesmas coisas. Para todo mundo. - Todo mundo? Eu também? - Acho que sim... - Como se eu fosse uma qualquer? - Não. Isso não. - João, estou nervosa. Droga

Papo de Elevador (2009) Parte 8

JOÃO LIGA PARA A FARMÁCIA - Farmácia Bassi, bom dia. - Eu preciso de ajuda. - Pois não, senhor? Que medicamento o senhor está procurando? - Um para dor de cabeça, talvez. - Sim, pois não. Temos aqui um remédio da marca ... - Bem, não sei ao certo. - Como? Gostaria de outro? Um xarope? - Pode ser. - Correto, senhor. Temos aqui bons xaropes na faixa de preço de... - Talvez seja outra coisa. - Desculpe, não entendi. - Não é remédio que eu procuro. - Senhor, está tudo bem? - Não! Está tudo péssimo, horrível, asqueroso! - Calma senhor. - Eu preciso de ajuda. - Vou passar para o gerente. Um momento. - Mas, mas... - "Farmácias Bassi. Há 45 anos atendendo a você e a sua família! Pensou farmácias, pensou Bassi!" - Que porcaria de música é essa? - Alô? Aqui é o gerente. - Oi! É, meu nome é João Alberto, é, eu preciso de ajuda. - Escuta aqui, espertinho. Pense duas vezes antes de fazer trotes, certo? Aqui é um estabelecimento sério. Você fica aí perdendo tempo e fazendo a gente perder t

Papo de Elevador (2009) Parte 7

JOÃO PEGA O TELEFONE - Alô? - Alô Dona Priscila. É o João. - Ah, oi João. Tudo! - Tudo o quê, Dona Priscila? - Você sempre pergunta se está tudo bem. - Mas hoje eu não fiz isso. - Tudo bem então. Eu respondi mesmo assim, não há problema. Você quer uma ligação para onde, querido? - Para uma farmácia. Não estou legal. - Ah. - Um mal estar, sabe? - Aham. - Dona Priscila? - Aham? - Talvez a senhora possa me ajudar. - Eu? - Sim. Eu digo sempre comentários iguais para todas as pessoas? - Bem... - Eu digo? Eu digo? - Olha querido, a sua ligação já está feita aqui. É só você atender, viu? - Mas, mas... - Obrigada, tchau! - Dona Priscila! (continua)

Papo de Elevador (2009) Parte 6

NA SALA - Oi João. - Ah, oi Guilherme. - Aconteceu alguma coisa? - Não. Por que? - Você não me perguntou se está tudo bem. - Aham. É, pois é. É a vida. - Dia bonito lá fora. - Tem umas nuvens no céu, lá. Tá vendo? - Sim. Lembrei de um assunto! - Qual? - Você não viu o jogão ontem, João? - Ih rapaz! Esqueci. Quanto foi? Quanto foi? - Vocês perderam de 1 x 0. No finalzinho. - Puxa, que falta de azar. - Vocês são muito ruins, João. Admita. - Não jogamos bem. Mas... é a vida. Um dia se ganha, outro dia se perde... - Tá. Eu preciso ir. - Aham. - Tchau João. - Tchau Guilherme. GUILHERME SAI DA SALA (continua)

Papo de Elevador (2009) Parte 5

NO ELEVADOR - Oi João. - Oi Suzy, tudo bem? - Sim. Nossa, mas como você está bonito hoje. - Obrigado, são os seus olhos. - É. Eles enxergam muito bem. Eu, entretanto, gostaria de enxergar melhor. - Ah sim, aham. O que? - João, o que você acha da gente sair uma hora dessas, depois do expediente, ir para um barzinho, jogar conversa fora? - Ótimo, ótimo. Pode ser sim. Será muito bom. Eu adoro barzinhos. Principalmente esses que tem televisão, mostrando partidas de futebol. - Futebol? Futebol, João? - É. Por quê? Vai dizer que não gosta de futebol? Todo mundo gosta. Para qual time você torce? - Eu não torço para nada. - Nem para a nossa seleção? Nem na copa? - Na copa eu assisto, porque só passa isso na TV. - Mas é muito bom, e... - João! - Aham. - Preste atenção. Eu quero falar de outras coisas. - Aham. - Podemos sair num barzinho, sem televisão. Quem sabe dançar um pouco. - Jóia, mas espera lá. A Verônica não gosta de barzinhos. - Verônica? - Minha esposa. - Esposa? Seu safado! - Por quê

Papo de Elevador (2009) Parte 4

O CHEFE ENTRA NA SALA - Oi João Alberto. - Oi Chefe, tudo bem? - Não. Ainda não. - Estou providenciando o seu relatório chefe. - Eu pedi para hoje de manhã. Já são dez horas. - Bem, a manhã não terminou ainda. - O que? - Estou encaminhando, mas leva tempo. - Sei. - Ah chefe, relaxa um pouco. - Aham. - Sério. Para que time o chefe torce? - Não gosto de futebol. - Ah não? - Não. Prefiro golfe. - Ah. Aham. - Conhece alguma coisa de golfe? - Não. Eu gosto de futebol. - Que pena. Golfe também é muito divertido. - Aham. - Eu pratico golfe inclusive. - Aham. - Sou sócio de um clube de golfe. - Aham. Ah olha chefe, terminei. O relatório já pode ser impresso. Viu, está pronto! Mais alguma coisa? - Eu queria continuar a falar sobre... - Chefe, eu lembrei de uma ligação urgente. Eu preciso fazer agora. - Quem pediu? - O pessoal do RH. - Tudo bem então. Faça isso. E depois conversamos. - Aham. Aquele abraço chefe, tchaau. (continua)

Papo de Elevador (2009) parte 3

DE VOLTA AO ESCRITÓRIO - Oi João Alberto. - Oi Guilherme, tudo bem? - Bem, mais ou menos. - Mais ou menos? Hã... - É verdade, João Alberto, estou bem mais ou menos. Cansado, para dizer a verdade. - Eu... é que... - Você tem dois minutinhos? Preciso dizer umas coisas, desabafar. - Sabe de uma coisa, Guilherme? Eu lembrei de um relatório e o chefe vai ficar irritadíssimo se eu não entregá-lo agora. - Mas João, eu queria... - Não vai dar mesmo, Guilherme. Fica para uma próxima, ok? Aquele abraço. Tchaau. - ??? NA SALA DE JOÃO ALBERTO - Ufa. Escapei. Credo, coisa estranha. O Guilherme nunca foi disso. (continua)