Cotidiano como fonte de inspiração

Eu trabalho num museu.

Outro dia, uma senhora esteve no meu local de trabalho e, após visitar a exposição, começou a falar sobre suas lembranças.

O museu trata da história da estrada de ferro. E a senhora relembrou algumas memórias de quando era mais nova e utilizava o trem.

Contou que, certa vez, quando o trem subia um morro, jogou um lenço para fora da janela, homenageando alguém muito amado por ela.

A senhora partiu, mas sua história ficou comigo.

Imaginei a cena: alguém jogando um lenço de dentro de um trem ao subir um morro. Vi na minha mente esse lenço bailando ao sabor do vento, descendo devagarinho em direção ao chão lá embaixo. E enquanto ele descia, o amor de uma jovem descia com ele.

Quão especial seria essa pessoa? Um namorado? Um amor proibido? Um noivado que não deu certo? Talvez alguém que hoje já é falecido?

Curioso notar como as lembranças vencem os anos e os calendários e permanecem intactas conosco.

O trem há quase 45 anos deixou de passar. Os trilhos não existem mais.

Mas o gesto do lenço jogado de dentro do trem permanece vivo no coração dessa senhora até hoje.

Ficou comigo também, porque guardei esta lembrança compartilhada e transformei-a num texto.


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