Stuck in the Bathroom

Andressa estava vestida de ursa panda. Era para ser uma festa a fantasia sensacional. A melhor de todas. Depositei todas as minhas fichas nessa festa e os níveis de ansiedade estavam altíssimos. Eu fui de pirata. Ok admito é uma fantasia bem clichê, bem senso comum, mas igualmente barata e acessível - dois adjetivos que caíram bem no meu bolso. Andressa já vinha me dando umas cantadas fazia um tempinho. Primeiramente os olhares - e que olhares! - depois conversas informais e casuais sobre qualquer assunto que viesse a mente, seguidos dos recreios compartilhados, trocas de telefones, e-mails e perfis de facebooks,culminando com um convite para a festa a fantasia na casa do Rafa. A festa era o de menos. Na verdade nem tão de menos assim, era essencial, mas acessória ao mesmo tempo: essencial porque era ali que eu poderia ficar com a Andressa, e acessória porque todo o resto poderia parar no tempo ou estourar como bolhas de sabão. Eis que na hora marcada, estávamos eu e ela, um de frente para o outro, na frente da casa do Rafa. A festa bombando intensamente lá dentro e eu só conseguia rir da fantasia de ursa panda da Andressa. Mas - e isso o amor faz com a gente - como ela estava bonita naquela fantasia! Poderia ter vindo de alface ou de queijo suíço, não importaria. E ela com aquele olhar "hoje você é meu!" Entramos e ficamos perto um do outro o tempo todo. Mas ainda não havia rolado nada. Apenas nervosismo, agitação e papos começados e inacabados. Não sei se era a quantidade de gente em volta, ou a música alta, mas eu não me sentia a vontade com ela. Lá pelas tantas, ela gesticulou com as mãos, sinalizando que iria ao banheiro. Pensei: é a minha chance. Ela foi, eu fui atrás, como um patinho seguindo a mamãe pato. Evidentemente ela percebeu isso e gostou da brincadeira. Quando chegamos ao banheiro, após cansativos cinco minutos de empurra empurra no meio da multidão de gente fantasiada na festa, eu tranquei a porta. E a brincadeira começou. Nos beijamos muito, intensa e longamente. Beijava o seu rosto, sua boca, seu pescoço. Abraçava-a firme. Meu desejo era o de não largá-la mais. Foi mágico, fantástico, ótimo. Tive a impressão de ver pingos de luz flutuando pelo banheiro - o amor tem dessas coisas! Os apressados perguntarão - Amor? - Sim, amor! Já éramos conhecidos há mais tempo e ficamos bons amigos. Só que não queria apenas a amizade. Não era suficiente. Eu desejava um novo status de relacionamento. E ali, naquele banheiro cheio de azulejos dos anos 80, eu estava conseguindo isso. Alguém bateu na porta - eu havia me esquecido onde estava - e então eu precisei largar dela por um instante e segurei a sua mão e assim desse jeito, nós nos preparamos para sair. Foi quando descobri que a porta estava emperrada! Também, ela devia tinha uns trinta anos de idade pelo menos. As batidas continuaram insistentes do lado de fora, seguidos de palavras de baixo calão que não serão reproduzidas aqui. E risadas do lado de dentro do banheiro, porque aquela situação toda era muito cômica. Precisaríamos de ajuda para sair e em pouco tempo, todos descobririam o nosso romance, a primeira vez que ficamos, porque a festa toda provavelmente iria se mobilizar para nos libertar. E por causa disso, se lembrariam para sempre do pirata e da ursa panda do banheiro dos anos 80. Iríamos virar uma lenda. Mas eu não achei ruim coisa nenhuma.

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