Ontem e Hoje (Publicado no Jornal do Médio Vale em 03/06/2011)

Eu trabalho no Arquivo Histórico Municipal Theobaldo Costa Jamundá, que faz parte da Fundação Indaialense de Cultura. Sou historiador de profissão. É interessante estudar e conhecer o passado, porque sempre tiro lições para o presente. Uma delas é a seguinte: no Arquivo Histórico onde eu trabalho, existem milhares de fotografias antigas, desde preto e branco até coloridas. Em grande número delas, aparecem famílias. E de acordo com a idade da fotografia, posso concluir que muitos dos retratados nas fotos já faleceram.

E aí eu reflito. Porque todas as pessoas, todas mesmo, até mesmo os que nasceram no dia de hoje morrerão um dia. Isso é fato. E a história está aí para provar isso. A maior parte do material que existe no Arquivo Histórico é de pessoas que já morreram.

As famílias apesar disso vão se renovando e os antigos membros dão lugar aos novos. O registro dos que viveram antes de nós, se são parentes próximos, inicialmente ficam no porta-retratos de alguma escrivaninha. Com o passar dos anos, essas fotos vão perdendo a importância para os membros mais jovens que pouco conheceram os que se foram. E daí essas fotos vão para um porão ou sótão, uma caixa de sapatos. Felizmente esse material é guardado. Triste é quando algumas famílias, insensíveis com a história de vida dos seus antepassados, jogam tudo fora, ou queimam, ou derrubam.

A impressão que se tem é que muitas pessoas vivem tão atarefadas na vida cotidiana, preocupadas em conseguir posses, rendas, construir um legado, que esquecem de sua própria história. Sim, porque a história de nossos pais, avós, bisavós é a nossa história, aquilo que nos constitui, elementos forjadores de nossas identidades. Muito do que nós somos hoje é graças aos nossos antepassados. Então como é que nós nos esquecemos de nossas raízes? Como deixamos de cultivar as nossas origens, as histórias familiares? De que maneira ficamos tão assoberbados que fechamos os olhos para o nosso passado?

É triste, muito triste. Porque uma hora ou outra nós estaremos idosos, sentados numa cadeira de balanço. Não estou dizendo que isso é ruim, apenas escrevendo para dizer que nós envelhecemos. É um processo natural da vida. Pois bem, envelhecemos e todo o nosso legado, toda a nossa história de vida poderá se esquecida, se os membros mais jovens de nossa família estiverem apenas entretidos nas suas vidas cotidianas. E assim nós cairemos no esquecimento, numa cova comum. E para as gerações futuras, é como se nós nunca existíssemos. Olhar apenas para o agora é olhar apenas para um lado da moeda. O hoje é também composto pelo ontem. Se não fosse pelo trabalho daqueles que nos antecederam, nós não estaríamos usufruindo da vida como a conhecemos agora.

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