Ainda Norbert Elias

O sociólogo Norbert Elias (1897-1990) foi um dos pensadores mais importantes do século XX. Pelo menos na minha visão. Ninguém precisa concordar comigo.
Umas das minhas metas nessa vida é conseguir todas as obras desse autor. No momento eu tenho 6 livros dele.

Bom, já escrevi aqui sobre o seu livro A Solidão dos Moribundos. Na ocasião em que escreveu a obra, ele contava com mais de 80 anos.

Em um determinado momento do seu livro, Elias escreveu que os jovens riem e não entendem a falta de mobilidade das pessoas mais velhas. Não entendem porque não sentem os joelhos falharem, dores nas costas, lentidão para fazer as atividades. Isso acontece para os mais velhos porque simplesmente o corpo está velho. E esse processo, o envelhecimento, é um processo natural. Faz parte. Ninguém manterá a mesma vitalidade do corpo para sempre.

Os mais jovens correm, sobem escadas de dois em dois degraus, pulam, dançam. Os mais velhos são lentos, se cansam rapidamente e alguns não conseguem mais subir escadas.

Mas ainda segundo Elias, envelhecer é um processo cultural. Se o envelhecimento faz parte da vida e todos estão sujeitos a isso, a percepção dele, do envelhecimento, é um processo nem um pouco natural. Somos educados e vemos constantemente nos meios da propaganda, da televisão, internet ou ainda nas conversas diárias entre as pessoas, que elas querem a todo custo "burlar" o envelhecimento. Seja através de plásticas, cremes, roupas, atitudes, seja através de pinturas para os cabelos, o fato é que todos querem se manter jovens. Ninguém durante a sua juventude irá pensar seriamente em como será quando for velho, porque os jovens mantém tanta vitalidade, energia, força e destreza, que não conseguem entender como poderão ficar velhos e ter dificuldades para fazer algo tão simples como subir uma escada?!

Mas Norbert Elias já havia sido jovem. E agora estava velho. Conhecia os dois lados da moeda. Os dois lados da história. Estava no crepúsculo dos seus dias e escrevendo para um público que estava na alvorada da vida. São momentos diferentes. E esse é um dos méritos desse autor que soube escrever a respeito desse assunto tão difícil. Difícil porque ele é evitado pela nossa sociedade tão necessitada de juventude e ilusões e ao mesmo tempo, porque soube apontar a questão do envelhecimento mais como um problema cultural e menos como um problema natural. Somos criados para tirar a ideia do envelhecimento a todo custo de nossas vidas, tanto nas nossas atitudes como nos nossos pensamentos.

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