Peixe no Aquário - terceira parte

Agatha... Será esta a senha para o paraíso? Na hora de morrer, tivesse eu a imagem desta moça antes de exalar o último suspiro e de cerrar os olhos, entraria prazenteiro e feliz no limiar do desconhecido!
Agatha: um sonho, uma constatação. Linda, morena, cabelos caídos nos ombros. Um olhar inteligente e enigmático. Ela deve ter minha idade, talvez um pouco mais. Mas que importam idades nesses momentos? Diante das artimanhas do coração, que importa qualquer coisa? Estava muito nervoso e feliz, muito feliz por ter aceitado o convite de Jeane e Nicolas.
Ficamos ali uma meia hora, conversando sobre tudo. Contei que era brasileiro e morador de Blumenau. Ela, entre uma mexida de cabelo e outra, disse que morava em Paris há bastante tempo, mas havia nascido em Lyon, mais para o sul. Suas mãos estavam bem perto das minhas e como tinha vontade de pegar nelas. Ela estava totalmente sintonizada comigo. Esqueci o que se passava ao derredor. Se uma bomba caísse dentro da sala, eu não prestaria nenhuma atenção.
Passaram-se as horas, céleres. Como o tempo é injusto. Diante de uma prova frustrante de física, os ponteiros mal se mexem. Mas basta encontrarmos a mulher de nossas vidas para o relógio, vil e cruel, resolver contratar um cavalo e andar a galope.
Um sentimento diferente apossou-se de mim, além da ternura. Era o pavor: De não vê-la mais. De nunca mais escutar aquela voz linda e macia. De ficar sem saber o seu endereço, e-mail, blog, qualquer indício. Curiosamente, Jeane não pediu mais a minha ajuda. Nem Nicolas. O sofá enorme deles era apenas ocupado por Agatha e eu. Os outros convidados estavam lá fora no jardim coberto, cantando e conversando, ou então na cozinha.
Uma vontade muito grande de beijá-la, de abraçá-la, de sentir o seu perfume. E fazia o que - uma? Duas horas desde o momento em que a vi e soube da sua existência? Minha vida agora era A.A e D.A – antes de Agatha e depois de Agatha. Sem exagero, perdi a vontade de voltar para o Brasil. E perde-la? Não, jamais.
Ríamos. Mas não o riso frouxo, inconsciente. Era alegria verdadeira, emanada de uma boa conversa, descontraída. Ela não era mais uma estranha. Já estava mais para melhor amiga de todos os tempos. Entretanto, isso não era suficiente.
Fiz uma brincadeira com ela, uma mágica muito fajuta que aprendi na escola – na verdade um truque para pegar na sua mão. Deu certo a mágica, e consumei meu objetivo imediato. Que dedos graciosos. E nossos dedos se encaixaram perfeitamente. A pior parte foi soltar a sua mão depois da brincadeira.
Com um relance, descobri, pelo relógio de parede na sala que já era meia noite. Agatha olhou com aquele semblante de “já é tarde, mas eu não quero ir embora”. Entre uma arranhada e outra de francês, descobri que ela morava sozinha, era sobrinha de Jeane e Nicolas e cursava faculdade de veterinária. Conclusão: precisava urgentemente de um gato.
(continua)

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