Peixe no Aquário - segunda parte

Como eu disse, Jeane e Nicolas eram pessoas amáveis. Só não sabia da família deles. Descobri isso depois da melhor maneira possível.
Avisei os professores e estudantes, meus colegas brasileiros. Eles entenderam e desejaram-me uma boa festa. Estava rodeado de pessoas alegres e legais. Assim, eu fiquei na casa da minha família francesa, ajudando nos preparativos, que não eram poucos. Arrumar a mesa, carregar refrigerantes e petiscos, cuidar da arrumação da sala, fazer espaço no jardim para as cadeiras e a aparelhagem de som. Eu fiquei satisfeito em poder ajudar.
Fiquei cansado. E tranqüilo. Estava adorando aquela situação. Nicolas tinha confiança em mim. Jeane sempre me olhava com um sorriso. Tudo muito bom.
Com o anoitecer, vieram os primeiros convidados. O aniversariante, Jean Paul, uma pessoa muito divertida. Um rapaz completando 16 anos. Espirituoso, cheio de graça, despojado. Falava rápido, não entendi tudo o que ele disse. Mas valeu. Eles sabiam que eu era estrangeiro. Vinham falar comigo, me abraçar, trocar alguma idéia. Eram primos, tios, cunhados, noras, uma infinidade de parentes. Alguns amigos também.
Enquanto isso, Jeane e Nicolas faziam com que eu trabalhasse. Levar refrigerantes para lá. Trocar petiscos para cá. Numa dessas minhas tarefas, eu fui à cozinha. Lá estavam Jeane, a irmã dela e mãe do Jean Paul o aniversariante e uma moça. Lembrei vagamente de tê-la visto entrar na casa, e só. Ali na cozinha, porém, eu reparei nela melhor, até porque ela estava encostada na geladeira e eu precisava de algo dentro dela. Pedi licença, ela olhou para mim, e disse sim, pois não, algo assim. Uma voz linda e macia.
Abri a geladeira e por um instante, esqueci o que precisava ali. Lembrei um segundo depois, porque o olhar daquela moça chamou-me a atenção. Que linda! Era uma gata de uma francesa!
Sai dali e levei o conteúdo da geladeira até Jeane, doido de vontade para voltar à cozinha. Comecei a ficar ansioso, o coração batendo rápido. Meu Deus do céu, como eu fiquei com as mãos suando quando a vi passar pelo corredor. Ela procurava alguma coisa, e de repente olhou para mim. Veio na minha direção e sentou num sofá. O que era isso? Amor a primeira vista? Isso existe? Não sabia o seu nome, nada. Nem sabia o meu agora, não sabia coisa alguma. Precisava falar com ela, este era o meu objetivo.
Num francês ansioso, eu perguntei o seu nome, logo que sentei ao seu lado. Ela, cruzando a perna na minha direção e olhando para mim, disse, com a sua voz linda e macia.
- Agatha.
(continua)

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