Peixe no Aquário - quarta parte

- Vamos ali fora um pouco? Perguntou ela. - Sim! Sim! Sim! Respondi.
Fomos à entrada da residência. Estava uma temperatura agradável. Em volta, aromas de roseiras cultivadas por residências vizinhas. E o meu coração quase em rebuliço, os pensamentos uníssonos, direcionados, concentrados em Agatha, por Agatha, para Agatha. Minha razão de viver: A-G-H-A-T-A.
Ela, a moça dos meus sonhos materializada da noite para o dia, depois de mexer os cabelos mais uma vez, disse, levantando as sobrancelhas.
- Eu moro aqui perto. Podes me acompanhar?
- Certo. Eu vou avisar Jeane e...
Não deu tempo. Agatha puxou-me, segurando minha mão.
- Vem. Você a avisa depois.
Caminhamos algo como dois quarteirões. Pareceram dez passos. O tempo continua brincando comigo. Chegamos à frente de um prédio com quatro andares, bonito e tradicional. Um típico prédio de classe média. Francesa, é claro. Para os padrões brasileiros, seria um prédio de gente rica.
A propósito, esqueci de comentar: o percurso de dois quarteirões eu fiz segurando as mãos de Agatha – ela não soltou as minhas quando me puxou lá na casa de Jeane e Nicolas. Parece que o seu status está mudando: de pessoa estranha e melhor amiga de toda a vida para namorada relâmpago, em apenas três horas. Pelo menos eu sentia isso. E queria sentir mais.
Na entrada do seu prédio, com árvores nas calçadas em volta, paramos e olhamos um para o outro. Ela parecia mais linda a cada minuto.
- Estevão, você fica mais bonito, refletido pela luz da rua.
- O que?
Não tive tempo de nada. Ela me beijou. Daqueles de cinema. Bom, pelo menos a emoção era de cinema. Senti-me um galã, o mais sortudo de todos os sortudos. Ficamos assim por quanto tempo? Novamente o tempo... Por que me preocupo com ele? Fui sacaneado a noite inteira com o seu galope desenfreado.
Segurei o rosto dela, com as duas mãos. Parecia um tesouro muito precioso. E era realmente, porque eu me senti muito rico naquele momento. De ter aquela oportunidade com uma morena francesa linda e especial.
Ela sorria. E ficava mais bela com cada sorriso. E eu mais bobo. Não sei de mais nada. Desisto de tentar entender. Não quero entender. Quero curtir.
E pensar que poderia ter feito uma visita ao Vale do Loire, cheio de castelos renascentistas e histórias de reis e rainhas que já morreram. Fascinante. Teria me enriquecido culturalmente, adquirido umas boas fotografias. E deixado de conhecer Agatha.
Voltemos.
Ela, a estudante de veterinária segurando as minhas mãos, depois de beijar-me carinhosamente, disse, respirando agitadamente.
- Estevão, você quer entrar?
Silêncio. Exterior, lógico. Por dentro, parecia um vulcão, expelindo lava e cinzas. Entrar, oh meu Deus. Não estava rápido demais? Ah tempo, você e suas peças. Entrar, entrar, entrar. Minha vontade era muito grande, mas entrar? O que viria depois? Claro que eu toparia. Ela é muito especial, um doce de garota. E eu apenas um rapaz blumenauense estudante de intercâmbio.
Segurei-a no rosto. Com ambas as mãos. E disse, respirando pesadamente.
- Sim, eu quero entrar.
Dizendo isso, ela soltou minhas mãos e pegou um molho de chaves do bolso. Foi abrir a porta e ficou de costas para mim. Que admirável cena aquela. Suas costas eram de uma beleza sem par. Enlacei-a por trás. E cheirei o seu pescoço. Ela deixou de tentar abrir a porta e segurou minhas mãos, que estavam na sua cintura.
- Agatha.
- Já vamos entrar, mais um pouco, espere.
A porta aberta, nós caminhamos por um corredor quase escuro, não fosse uma tímida lâmpada localizada num canto.
(continua)

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